Durante dois anos, os depósitos eram de, no máximo, R$ 9.900 para burlar controle do Banco Central, afirma Procuradoria. Todas as compras foram pagas em dinheiro.
Após o ex-governador Sérgio Cabral deixar o governo do Rio, em abril de 2014, a sua mulher, Adriana Ancelmo, saiu às compras. Por dois anos, a ex-primeira dama comprou vestidos, reformou parte do apartamento do casal, no Leblon, na Zona Sul, e adquiriu mini-buggies para os filhos passearem na casa de Mangaratiba, na região sul do Estado. Entre maio de 2014 e agosto de 2016, a ex-primeira-dama gastou, no mínimo, R$ 528,8 mil. Todos os pagamentos foram feitos em dinheiro.
Notas fiscais e documentos que constam do processo contra o ex-governador e que resultaram na operação Calicute, na quinta (17), mostram que Adriana Ancelmo utilizava duas estratégias, segundo os investigadores, para burlar a fiscalização do Banco Central: pagava à vista ou, então, optava por parcelar as compras sempre com depósitos de, no máximo, R$ 9.900. O Banco Central comunica ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) todas as movimentações financeiras acima de R$ 10 mil.
Nenhuma transação era feita por Sérgio Cabral. Todas as notas fiscais tinham o nome de Adriana Ancelmo. Para os procuradores do Ministério Público Federal, essa atuação da ex-primeira dama mostra que ela tentava "lavar" o dinheiro ganho pelo marido com o pagamento de propina das empreiteiras. Por isso, o MPF pediu a prisão de Adriana Ancelmo, que acabou negada pela Justiça. A primeira compra de Adriana aconteceu em 7 de maio, dias depois de Cabral deixar o Palácio Guanabara. Na ocasião, Adriana pagou R$ 6,1 mil em uma cama para o casal.
Na mesma época, Adriana Ancelmo gastou R$ 16.449 na compra e instalação de um forno elétrico no apartamento do Leblon. Em agosto, a ex-primeira-dama pagou cerca de R$ 58 mil na compra dos materiais e serviços para a blindagem do carro do casal. A partir de 15 de agosto foram feitos seis depósitos que variaram entre R$ 400 e R$ 9.900 para a empresa responsável pelo serviço.
A partir de novembro de 2014 até fevereiro de 2015, Adriana comprou seis vestidos sob medida. Os valores variaram de R$ 2.208 a peças que custaram R$ 12.800, o que totalizou pouco mais de R$ 30 mil em vestidos. Há registros de três depósitos de R$ 9.900.
A Polícia Federal obteve ainda registro da compra em agosto deste ano de um carro da marca Kia, tipo Grand Carnival preto, ano 2015. Pelo veículo, Adriana Ancelmo pagou R$ 128 mil à vista e em dinheiro.
Procurados pelo G1, os advogados de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo não ligaram de volta.
Fonte: G1